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Floração

A diversidade de ipês do Brasil

Desde o final de julho até o mês de setembro, cidades do Sul do país até o Norte e Nordeste presenciaram o espetáculo da floração dos ipês.

Publicado em 31/08/2022 às 09:54
Atualizado em

(Foto: Carol Negrão/ Portal da Cidade)

Desde o final de julho até o mês de setembro, cidades do Sul do país até o Norte e Nordeste presenciaram o espetáculo da floração dos ipês. Flores roxas, rosas, amarelas, brancas e verdes, deixam as ruas mais charmosas e formam tapetes coloridos no chão quando as flores caem. Um espetáculo da natureza em infinidades de cores!

Apesar dessa grande variedade, será que todos os ipês são iguais? O que cada um tem de tão especial? Desde o uso da madeira, ao uso tradicional como planta medicinal ou ornamental, até a conservação de espécies, os ipês têm inúmeras funcionalidades nos ambientes.

A palavra ipê vem da língua indígena tupi guarani, Y’-pê, que significa casca de árvore. Também são conhecidos como pau d’arco, por serem usados na fabricação de arcos indígenas e barcos. Essas plantas fazem parte da família Bignoniaceae, dentro do grupo das angiospermas (plantas com flores). Essa família é conhecida pelo grande número de espécies de importância econômica que fornecem madeira e muitas são usadas como plantas ornamentais. Cerca de 15 espécies diferentes são chamadas popularmente como ipê, fazendo parte dos gêneros Handroanthus, Tabebuia, Tecoma e Cybistax. Fica a dica: nome popular não quer dizer que tudo é uma espécie de planta só!

Por isso, essas espécies possuem formas distintas e aplicações no nosso cotidiano bem diferentes, mas uma coisa todas elas têm em comum: são lindas plantas ornamentais usadas no paisagismo das cidades.

Te convido a conhecê-las rapidamente por um olhar botânico. Os ipês vão desde plantas arbustivas de dois metros de altura, como o ipê-amarelo-de-jardim até grandes árvores de 30 metros de altura, como o ipê-roxo. As espécies possuem folhas com três até sete folíolos (uma folha é formada por 3 - 7 “folhas menores”), e as flores se dispõem em conjunto (inflorescência) formando um “buquê” de até 20 flores em uma haste. As flores têm forma de sino, chamadas de campanuladas, e são hermafroditas, ou seja, possuem tanto a parte masculina quanto feminina na mesma flor. As flores são anuais e surgem no inverno e primavera, caindo rapidamente. O tronco tem até 80 cm de diâmetro, é escamoso, e a madeira é considerada resistente e dura, sendo classificada como madeira nobre e importante para a indústria.

No tronco, é produzido um composto químico da classe das quinonas, denominado lapachol, que tem sido estudado para o tratamento do câncer. O extrato aquoso da casca é usado como anti-inflamatório e antibacteriano, tratando doenças de pele, como eczemas, psoríase, câncer de pele e infecções fúngicas; doenças gástricas pela bactéria Heliobacter pylori, úlceras, além de diabetes, sífilis e dores crônicas.

Existem registros de propriedades medicinais em várias espécies, mas as mais bem estudada é a popularmente conhecida como ipê-roxo, Handroanthus impetiginosus

Além dos usos medicinais e potenciais para a indústria, tanto na extração de madeira, quanto utilização dos compostos químicos, estudos recentes demonstram que os ipês amarelos de centros urbanos são importantes na conservação diversas espécies de pássaros e abelhas. A relação da planta-animal para a alimentação dos animais e polinização das flores, influenciam diretamente os ambientes de forma positiva, tornando as cidades importantes no processo de conservação e sustentabilidade da biodiversidade.

A presença dos ipês aumenta a ocorrência de beija-flores, periquito-de-encontro-amarelo, papagaios, guaxe, chorão e outras espécies de pássaros.

Conheça agora as espécies de ipês que ocorrem no Brasil, desde plantas ornamentais, usadas no paisagismo de cidades, até espécies nativas e endêmicas (que ocorrem exclusivamente no Brasil).

Ipê roxo


(Foto: Arquivo/ Carol Negrão)

Possui duas espécies.

  • Nome científico: Handroanthus impetiginosus (Mart. ex DC.) Mattos. Espécie nativa do Brasil, que ocorre no Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste.
  • Nome científico: Handroanthus heptaphyllus (Mart.) Mattos.Espécie nativa do Brasil, com distribuição no Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul.

Ipê rosa


(Foto: Arquivo/ Carol Negrão)

  • Nome científico: Tabebuia rosea (Bertol.) Bertero ex A.DC. Espécie ornamental, cultivada, que ocorre no Centro-Oeste (DF e GO) e Sudeste.

Ipê branco


(foto: Arquivo/ Carol Negrão)

  • Nome científico: Tabebuia roseoalba (Ridl.) Sandwith. Espécie nativa do Brasil, distribuída no Norte (PA, TO), Nordeste, Centro-oeste e Sudeste.

Ipê de jardim amarelo

  • Nome científico: Tecoma stans (L.) Juss. ex Kunth. Espécie ornamental, cultivada no Brasil, distribuída no Centro-oeste, Sudeste e Sul (PR).

Ipê amarelo


(Foto: Arquivo/ Carol Negrão)

Maior diversidade de espécies, sendo o mais conhecido no Brasil. Sua floração ocorre entre final de julho e setembro.

  • Nome científico: Handroanthus albus (Cham.) Mattos. Espécie nativa do Brasil, distribuída nas regiões Sudeste e Sul.
  • Nome científico: Handroanthus arianeae (A.H.Gentry) S.O.Grose. Espécie nativa do Brasil que ocorre apenas no estado do ES. Também conhecido como ipê-preto.
  • Nome científico: Handroanthus chrysotrichus (Mart. ex DC.) Mattos. Espécie nativa do Brasil, distribuída nas regiões Nordeste, Sudeste e Sul.
  • Nome científico: Handroanthus cristatus (A.H.Gentry) S.O.Grose. Espécie nativa e endêmica apenas do estado do Espírito Santo.
  • Nome científico: Handroanthus ochraceus (Cham.) Mattos. Espécie nativa do Brasil, distribuída nas regiões Sudeste, Nordeste e Centro- Oeste.
  • Nome científico: Handroanthus riodocensis (A.H.Gentry) S.O.Grose. Espécie nativa e endêmica dos estados da Bahia, Minas Gerais e Espírito Santo.
  • Nome científico: Handroanthus serratifolius (Vahl) S.O.Grose. Espécie nativa do Brasil, distribuída em todo país, exceto no estado do Rio Grande do Sul.
  • Nome científico: Handroanthus umbellatus (Sond.) Mattos. Espécie nativa e endêmica do Brasil, ocorrendo na região Sul, Sudeste e estado da Bahia.
  • Nome científico: Tabebuia aurea Benth. & Hook.f. ex S.Moore. Espécie nativa, distribuída em todo o Brasil.

Ipê verde, ipê mandioca, ipê mirim, ipê pardo


(Foto: Reprodução/ Google)

  • Nome científico: Cybistax antisyphilitica (Mart.) Mart. Espécie nativa brasileira, distribuída no Norte, Nordeste (BA, CE, MA e PI), Centro-Oeste, Sudeste e Sul.

Fontes:

CARVALHO, M. R. Dicionário Tupi (antigo) – Português. 1987. Salvador. Disponível em: http://etnolinguistica.wdfiles.com/local--files/biblio%3Acarvalho-1987-dicionario/Carvalho_1987_DicTupiAntigo-Port_OCR.pdf

HAMED, A. N. E.; et al. An extensive review on genus “Tabebuia”, family Bignoniaceae: phytochemistry and biological activities (1967 to 2018). Journal of Herbal Medicine, 2020. DOI: https://doi.org/10.1016/j.hermed.2020.100410

SILVA, P. A.; et al. Birds visiting flowers of the Yellow Ipe (Handroanthus vellosoi) in the urbanized area emphasizes the importance of plant-animal interaction in the afforestation of cities. Research, Society and Development, 2021, v. 10, n.15. DOI: https://doi.org/10.33448/rsd-v10i15.22982

The World Flora Online. ttp://www.worldfloraonline.org/taxon/wfo-0000807331. 

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REFLORA. Flora e Funga do Brasil. http://reflora.jbrj.gov.br/reflora/listaBrasil/ConsultaPublicaUC/ConsultaPublicaUC.do;jsessionid=13D7369A1609EC9522BB6AEA1E7762E7#CondicaoTaxonCP

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Sobre a autora

Ana Lívia Negrão Leite Ribeiro é guaxupeana, bacharel e licenciada em Ciências Biológicas, com mestrado e doutorado em Biodiversidade Vegetal e Meio Ambiente pelo Instituto de Botânica de São Paulo. Possui formação complementar em fitoterapia e coordena o projeto de escola de botânica Cabocla Ciência. Atuou como professora universitária na Universidade Estadual do Ceará (UECE) e Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB).

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