A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) realizou no mês de junho o primeiro transplante de células-tronco adultas do tecido adiposo em uma paciente diabética. O transplante reuniu equipe multiprofissional do Hospital Risoleta Neves, da Faculdade de Medicina e do Instituto de Ciências Biológicas, com apoio do Hospital das Clínicas da UFMG. Entre os profissionais que participaram do procedimento, está a médica Lara Léllis Minchillo Lopes, guaxupeana e filha de Alexandre Minchillo Lopes e Alsten Léllis Minchillo Lopes.
Veja a matéria da TV UFMG sobre a pesquisa:
A paciente que recebeu o transplante certamente teria a perna amputada. “Foi a primeira vez que a gente fez no território brasileiro e provavelmente uma das primeiras do mundo”, afirmou o coordenador de Cirurgia Vascular do Hospital Risoleta Neve, o médico Túlio Navarro, à TV UFMG.
Segundo Lara, que é assistente de Navarro, o foco inicial da pesquisa, que é inédita no Brasil, é a isquemia crítica, uma doença grave cujos principais fatores de risco são diabetes e tabagismo. “Essa escolha se deve à alta prevalência dessa doença, que consiste na obstrução das artérias do membro inferior podendo levar à amputação. Mas certamente há diversas outras aplicações para o uso destas células na cirurgia vascular e em outras especialidades médicas. A terapia com células-tronco já se mostrou promissora no tratamento de diversas doenças como infarto, artrite, doença inflamatória intestinal e até mesmo autismo. Pesquisadores em todo o mundo estão estudando possíveis aplicações para essa nova terapia e nosso grupo também espera poder tratar outras doenças no futuro”, explica a médica.
A técnica pode trazer esperança para pessoas que sofrem com doenças vasculares. A cada 30 segundos um paciente e amputado devido ao diabetes, o que torna a isquemia crítica um problema de saúde pública.
Pesquisa
A pesquisa começou em 2016 com o objetivo de realizar estudos em humanos. Lara também realizou estudos pré-clínicos em modelos animais, na Universidade de Yale (EUA).
Dr. Túlio Navarro e médica pesquiadora Lara Minchillo, trabalham junto na pesquisa com células- tronco. (Reprodução/ TV UFMG)
“A minha assistente, a Lara, ela foi primeiro para os Estados Unidos, onde ela ficou na Universidade de Yale, durante seis/sete meses aprendendo métodos de separação de células-tronco. Nós pegamos a tecnologia que já existe aqui a UFMG pela professora Lucíola (Barcelos). Vimos todos os dados da literatura e fizemos nosso método: barato e simples”, afirmou Dr. Navarro à TV UFMG.
“Em junho de 2019, após autorização da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa, iniciamos os estudos em humanos por meio do projeto Limb Rescue e já estamos programando nosso segundo paciente”, conta Lara Minchillo.
Ela ainda explica sobre as células-tronco que são utilizadas na pesquisa. “Existem três tipos de células-tronco: embrionárias, adultas e induzidas. As células tronco de tecido adiposo pertencem ao grupo de células tronco adultas. São células que não sofreram o processo de diferenciação completo e por isso mantém uma grande capacidade regenerativa. Quando essas células são injetadas em um órgão danificado, elas produzem citocinas, substâncias responsáveis por induzir o reparo daquele tecido. As células-tronco do tecido adiposo apresentam muitas vantagens: elas são facilmente obtidas por lipoaspiração e não há possibilidade de rejeição ou de conflito ético, já que elas são retiradas do próprio indivíduo que irá recebê-las. Por essas razões apostamos nessas células como uma excelente alternativa para os nossos pacientes”.
A paciente que recebeu o transplante das células-tronco no dia 16 de junho está bem e já está em casa. “Estamos acompanhando sua evolução em nível ambulatorial. Estamos otimistas, mas ainda é cedo para afirmar se houve o resultado esperado, pois os efeitos dessa terapia demoram semanas para aparecer”, avalia a médica guaxupeana.
Sobre a médica
Lara nasceu em Belo Horizonte, mas se considera de Guaxupé. “Guardo grande carinho pela cidade que acolheu meus pais, Alsten e Alexandre, e onde morei até meus 16 anos. Em 2017 tivemos a alegria de estabelecer uma parceria entre a prefeitura e a nossa Liga de Cirurgia da UFMG. Desde então, Guaxupé recebe nossos Mutirões de Cirurgia, o que para mim representou uma forma de retribuir à cidade pelo que proporcionou a mim e a minha família. Nesses eventos, os guaxupeanos são sempre muito elogiados pela educação e hospitalidade, o que me enche de orgulho”, finaliza.