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Salvamento

Bombeiros de Guaxupé participam da operação de buscas em Brumadinho

O Comandante do Corpo de Bombeiros de Guaxupé falou com exclusividade para a Rádio Comunitária e o Portal da Cidade sobre a experiência em Brumadinho.

Publicado em 06/03/2019 às 03:02
Atualizado em

Cabo Ribeiro também participará da operação no fim do mês de março. (Foto: Corpo de Bombeiros de Guaxupé)

A tragédia da Vale, em Brumadinho entrou no 41º dia de buscas. Até o momento, 122 pessoas estão desaparecidas e 182 corpo foram encontrados.

As buscas não tem previsão de terminar e bombeiros militares de todo o estado estão sendo empenhados nas buscas.

O comandante do Corpo do Bombeiros de Guaxupé, Tenente Josué Pereira participou das buscas entre os dias 14 e 21 de fevereiros.

No fim de semana o militar falou sobre a experiência ao vivo para a Rádio Comunitária e para o Portal da Cidade Guaxupé.

Confira a entrevista

Portal da Cidade-Como foi essa experiência?

Tenente- A situação encontrada no local, em Brumadinho, é muito triste. Ao chegar no local a gente já sente um clima mais pesado pela tragédia que aconteceu no local. A gente adquiriu uma experiência muito grande de como lidar em situações de desastres de tal grandeza. Essa foi uma das principais ocorrências que aconteceu com o corpo de Bombeiros em Minas Gerais. A experiência adquirida no local é muito grande, onde a gente pode aplicar em vários locais. O que eu mais enfatizo é a experiência para a carreira e para as próximas atuações. Espero que isso não ocorra, mas se ocorrer, estaremos preparados para isso.

PC- Isso provou que o corpo de Bombeiros está preparado para qualquer tipo de situação em Minas Gerais?

Sim. Ao chegar ao local a gente vê o quão preparada estava a corporação e dos demais órgãos para tal ocorrência, para tal desastre. 

PC- Qual foi a primeira impressão no momento em que você de deparou com a situação o rompimento da barragem?

Às vezes a gente não se dá conta de quão grande foi o desastre vendo por foto. Quando a gente vê aquela imensidão de lama, vê a grandiosidade vendo por foto, mas presente lá vê que realmente foi muito maior o desastre. E até o impacto que gerou a estruturas, rompeu estruturas metálicas muito fortes. A situação com carros, caminhões todos retorcidos por causa da força do impacto da onda no local. A gente fica assustado com a situação lá.


PC- O trabalho do corpo de bombeiros foi muito elogiado Um jornalista estrangeiro chegou a afirmar que o Corpo de Bombeiros merece o Nobel da Paz pela atuação. Ouvir algo como isso é um incentivo?

Nós da corporação temos a missão, que é salvar. Então essa missão já nos dá muita ânsia em querer ajudar o próximo. Só da gente saber a grandiosidade da situação e ter um reconhecimento desse, tão grande, a gente fica muito agradecido e realmente nos inspira a poder ajudar mais, nos inspira a dar o nosso melhor porque o trabalho é muito cansativo. Não só isso, recebemos muitas cartinhas de crianças, a gente ficou com o coração bem apertado. A gente só quer dar o nosso melhor para poder encontrar um corpo para poder ajudar para amenizar o sofrimento da família. Pra gente dá muita satisfação apesar do sofrimento da situação.

PC- Tenente qual a maior dificuldade de trabalhar em um terreno como aquele?

A dificuldade que a gente encontra, em um terreno como este, é a situação da exaustão, cansa muito fácil. Poucos metros de deslocamento exigem uma força muito grande, então acaba desgastando e cansando muito fácil. Até com relação à situação climática ali. As chuvas, o sol muito intenso ali, diminuem este tempo que fazem chegar a exaustão. Os raios também, a questão de probabilidade de raio no local, além do mais em um campo aberto, aumenta muito mais a tensão.

Uma coisa que percebi lá foi a atenção do comando em relação aos militares que estão trabalhando. Eles tiveram uma atenção muito grande em caso de chuva e probabilidade de descargas elétricas, sempre avisavam por rádio para que a gente procurasse um lugar seguro para o todo o momento de situação que prejudicasse a segurança. Então a gente vê realmente o compromisso do comando do Corpo de Bombeiros com os militares trabalhando e a ânsia de encontrar mais corpo ali no local.

PC- Há mais de um mês aconteceu o acidente. O solo já está compactado e isso acaba dificultando o trabalho?

Sim, dificulta muito. Quando a gente chegou ao local foi feito um release da situação pra gente poder preparar para trabalhar. Um deslocamento de cem metros, que fazemos em poucos segundos durava em torno de meia hora, e isso dependendo do local e do ponto que estivesse ali. Então a dificuldade é muito grande. Por causa do solo e da lama, que são diferentes, torna muito pesado para deslocar o que acaba levando a uma exaustão maior. 

PC-Com o passar dos dias vai se perdendo a esperança de achar mais vítimas?

Quanto mais vai passando o tempo, a gente tem um esperança maior, tanto que tem encontrado corpos no local. Todos os dias foram encontrados corpos e seguimentos e corpos ali no local. Enquanto houver essa expectativa e não fornecer riscos às equipes que trabalham ali no local, o Corpo de Bombeiros vai continuar atuando. Não há data prevista para o encerramento. Enquanto for favorável a gente trabalhar e encontrar corpo ali, se continuar encontrando ali, então a gente continua os trabalhos. Tanto que até o final do mês de março tem previsão de empenho. Posterior a este mês a gente continua realizando as buscas, a não ser que o comando defina o contrário.

PC- E tem um lugar onde os bombeiros estão intensificando as buscas que tem a maior probabilidade de encontrar corpos?

Por causa da força desses rejeitos, da movimentação dos rejeitos, onde foi encontrado foi levado, ficou bem espalhado pelo percurso do rejeito no Córrego do Feijão. O comando distribuiu as equipes por todo o percurso, onde está sendo utilizados cães para farejar algum odor característico e ali empenhamos o maquinário para fazer a busca pelos corpos. Ali não tem nenhum ponto específico, mas onde há a probabilidade de ter então ali tem a concentração, mas em todo o percurso estão sendo empenhadas as equipes.

PC-  Durante quanto tempo vocês serão monitorados com relação a esse nível de metais?

Nós estamos com acompanhamento médico e psicológico. Tem essa preocupação com os militares com o uso de equipamentos de proteção individuais. Por causa dessa passagem em contato com os rejeitos, nós passamos toda a semana por exames médicos para confirmar qual a situação da contaminação. Em torno de sessenta dias iremos toda a semana fazer esse monitoramento e depois iremos estender uma vez por mês esses exames para saber se não teve nenhum agravo à saúde. 

PC- Outro militar de Guaxupé foi destacado para este serviço?

Sim. Temos o cursos de Buscas e Resgates em Estruturas Colapsadas e temos também o curso de Salvamento em Situações de Enchentes, Soterramento e Inundações. Que são os cursos que são solicitados para atuar lá. Esses cursos são mais para a experiência em situações dessa magnitude, mas todos os militares do Corpo de Bombeiros estão preparados para trabalhar nestas situações tanto que agora, aqui de Guaxupé, quem vai é o Cabo Ribeiro, que vai atuar em Brumadinho no final deste mês. É um excelente militar, tanto ele quantos os outros militares de Guaxupé tiveram ânsia em trabalhar em Brumadinho. Ele vai se deslocar no fim do mês. Ele não tem o curso, mas ele tem outros cursos e experiência.

Barragens na região

PC-Falando sobre a situação das barragens em todo o estado, nós temos seis barragens em Guaranésia, na Usina Alvorada do Bebedouro, que possuem estabilidade garantida. Mas diante de toda essa tragédia o Corpo de Bombeiros fará a fiscalização dessas barragens, ou isso ficará à cargo da Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEAM)?

Devido essa tragédia que ocorreu, partiu do comando para que a gente faça essa fiscalização, um levantamento das barragens que têm no entorno da nossa região. Foi verificada a situação dessas barragens lá em Guaranésia, onde fizemos a avaliação. Nós não fazemos essa fiscalização. Nós temos a FEAM que faz a fiscalização dessas barragens e a agência nacional de mineração que constatou que essas barragens não trazem risco. A gente tem acompanhado a situação, se tiver alguma barragem que não esteja em acordo, a gente passa pelo comando para que sejam tomadas providências.

PC-Então pelo Corpo de Bombeiros de Guaxupé essas barragens de Guaranésia têm segurança?

Sim, de acordo com a fiscalização feita pela ANM (Agência Nacional de Mineração)

PC- Quais as suas considerações finais?

Queria agradecer as mensagens deste momento que estive m Brumadinho. Foi um prazer grande representar a região em Brumadinho. Quando a gente tem um reconhecimento de perto também é muito gratificante.


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