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Extinção

Relatório aponta que mais de um milhão de espécies estão em extinção

Bióloga guaxupeana fala sobre como o desaparecimento de espécies interfere no equilíbrio natural do planeta.

Publicado em 08/05/2019 às 00:14
Atualizado em

Um milhão de especies estão em extinção em todo o mundo, segundo relatório do IPBES. (Foto: WWF)

Na última segunda-feira (06) foi divulgado o relatório do IPBES – Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos – que subsidia conhecimento científico para tomadas de decisões, formada por 127 países. O relatório foi elaborado por 145 autores, de 50 países, baseado em 15.000 artigos científicos. O que mais se destacou foram os dados alarmantes sobre extinção de espécies, que revelou que estamos passando por uma extinção em massa. 

Das cerca de 8 milhões de espécies de animais e vegetais presentes atualmente, estima-se que um milhão estejam em extinção. O que poucos sabem é que todos os dias, uma espécie pode ser extinta, sem nem ao menos sabermos da sua existência.

Espécies de anfíbios diminuiu 40% desde 1900. (Foto: reprodução UN)

Desde 1900, a abundância de espécies terrestres caiu 20%. Mais de 40% das espécies de anfíbios, 33% dos corais, mais de um terço de todos os mamíferos marinhos e cerca de 10% dos insetos estão ameaçados. Desde o século XVI, pelo menos 680 espécies de vertebrados foram levadas à extinção e mais de 9% de todas as raças domesticadas de mamíferos usados para alimentação e agricultura foram extintas em 2016. 

Gráfico ao lado mostra as espécies desaparecidas no mundo desde 1900. (Fonte:IPBES/ El País)

Mas quais são as causas dessa extinção e quais os prejuízos que ela traz para a sociedade? A perda de biodiversidade induzida pela conversão de ecossistemas nativos e o uso insustentável dos recursos naturais comprometem processos essenciais ao bem-estar humano. Nos últimos anos, o aumento da emissão de gases de efeito estufa, as mudanças climáticas, uso irregular do solo e do mar, a poluição, a introdução de espécies exóticas em áreas nativas e a superexploração de recursos naturais tem aumentado consideravelmente.

Dados do Painel Intergovernamental de Mudanças do Clima ( IPCC) mostram que desde a Revolução Industrial houve um aumento global da temperatura de 0,7°C na atmosfera, causado principalmente pelas emissões de gases poluidores como CO2. Se a emissão desses gases continuar e não houver diminuição, a expectativa é aumento de temperatura de 2,6°C até 4,8°C até 2100. Estudos têm mostrado os efeitos das mudanças do clima na biodiversidade de florestas e mares, impactando de forma negativa tanto animais quanto vegetais.

Palavra de Especialista

Segundo a bióloga guaxupeana, a PhD Ana Lívia Negrão Leite Ribeiro, que ministra aulas na Universidade Estadual do Ceará (UECE), esse aumento da temperatura pode ser registrado antes mesmo de 2100.

Ana Lívia Negrão Leite Ribeito / Professora Universitária / Fortaleza (CE)

Pesquisa com algas

“Parece muito tempo, mas segundo já se observa, esse aumento pode ser atingido antes mesmo de 2100. O que devemos levar em conta é que não é apenas o aumento da temperatura, mas sim vários fatores associados que levam a grandes impactos na biodiversidade. Nas minhas pesquisas, pude observar as causas desse aumento de temperatura, junto ao aumento das emissões de CO2 e poluentes na água do mar e como eles afetam algas marinhas.

Ana Lívia Negrão Leite Ribeito / Professora Universitária / Fortaleza (CE)

"Os resultados foram devastadores, e as espécies podem ser dizimadas antes mesmo desse prazo de 2100. O efeito é cascata e o que poucos sabem é que, por exemplo, as algas são organismos base da cadeia alimentar de peixes e outros animais marinhos. A perda da biodiversidade delas, afeta todo o ecossistema e por consequência, afeta os ambientes terrestres e as populações que necessitam desses recursos”, explica.

Para a especialista a população e governantes não entenderam a necessidade de aliar o desenvolvimento a práticas que protejam a natureza.  

Animais polinizadores como as abelhas correm o risco de desaparecer, segundo relatório. (Foto:Agência Fapesp)

“Precisa-se ter desenvolvimento de políticas públicas efetivas e de manejo de áreas ambientais em conjunto com povos nativos. Estudos recentes mostram que 85% das áreas preservadas em florestas, como a Amazônia que detêm 40% da cobertura total de florestas do território brasileiro, são áreas indígenas que vem sofrendo grande pressão de garimpeiros e do agronegócio. Essas áreas protegidas são as que mais detêm biodiversidade e ajudam na preservação de muitas espécies terrestres que nem foram conhecidas", afirma Ana Lívia.

Produção de medicamentos comprometida

Ainda de acordo com a professora guaxupeana, a extinção de espécies pode comprometer a produção. "A maioria das descobertas de fármacos e produtos industriais vêm de espécies vegetais e animais que são estudadas pela ciência, através do conhecimento tradicional e muitas delas preservadas nessas áreas. Esses dados foram corroborados pelo relatório do IPBES, destacando que três quartos do meio ambiente terrestre e 66% do ambiente marinho foram significativamente alterados pelas ações humanas. Em média, essas tendências foram menos severas ou evitadas em áreas mantidas ou geridas por povos indígenas e comunidades locais. No ecossistema marinho, o que se conhece da biodiversidade não chega a 10% do estimado. Se continuarmos nesse ritmo, muitas espécies serão extintas, sem ao menos serem conhecidas e esse é um ambiente altamente rico em recursos e potencial de bioprospecção de produtos”, afirma Ribeiro. 

No Brasil, as espécies ameaçadas até 2014 segundo dados do Ministério do Meio Ambiente (MMA) somavam 3.286, sendo 1.173 de fauna e 2.113 de flora. Deste total, 316 espécies não estão inseridas em nenhum instrumento de proteção oficial, ou seja, nenhuma delas estão em Unidades de Conservação, não têm Plano de Ação Nacional e não estão incluídas em nenhuma outra medida de proteção que deveria ser dada pelo governo. 

Dentre as principais ameaças para espécies no território brasileiro, 77% são perda e degradação de habitat (principalmente pelo desmatamento e agronegócio); 15% são extração direta (coleta, caça e pesca) e 3% são espécies exóticas. É previsto em lei e função do poder público criar medidas de proteção e manejo de espécies que estejam ameaçadas de extinção. 

A população que mais sofre com os efeitos disso tudo é a de baixa renda, que é afetada diretamente com a poluição, desmatamento, falta de saneamento e atividades de mineração. Um dos elementos-chave para resolução do problema apontado pelos autores do IPBES é a criação de políticas públicas futuras mais sustentáveis para a evolução dos sistemas financeiros e econômicos globais, visando a construção de uma economia global sustentável, afastando-se do atual paradigma de que a preservação ambiental anda na contramão do crescimento econômico. 

“Ainda não chegamos a um ponto de irreversibilidade na perda de biodiversidade e a consequente degradação dos serviços ecossistêmicos essenciais para a qualidade de vida. Se tomarmos decisões agora, para, em conjunto e de forma coordenada e cooperativa, promovermos mudanças transformativas integradas, inclusivas e baseadas no melhor conhecimento científico disponível, é possível reverter a velocidade da degradação. Isso passa, obrigatoriamente, por conseguir cumprir as metas do Acordo de Paris, pois o aquecimento global já é um dos principais impulsionadores da perda de biodiversidade e degradação dos serviços ecossistêmicos”, ressalta Joly, um dos autores do relatório.

Sobre a autora
A guaxupeana Ana Lívia Negrão Leite Ribeiro é doutora em Biodiversidade e Meio Ambiente pelo Instituto de Botânica de São Paulo e atualmente ministra aulas na área para alunos do curso de Ciências Biológicas do Universidade Estadual do Ceará, em Quixadá (CE).

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